quarta-feira, 26 de novembro de 2008

E quem foi que disse que ser povo não é chique?

Quem diria que um cearense lá do Assaré que freqüentou a escola por apenas quatro meses e agricultor, seria um reconhecido compositor, improvisador e cantor.
Nascido em 1909 e falecido em 2002, Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré traz em suas obras uma visão de mundo diferente dos escritos convencionais. Retrata a vida de uma cultura cabocla. Poemas e músicas às vezes nostálgicos que mostram o desapontamento com as mudanças trazidas pelas mudanças da modernidade e da vida urbana ou que por vezes tematizam a reforma agrária, os ideais, os valores e o cotidiano dos sertanejos cearenses.
Veja só:
A — Ai, como é duro viver
nos Estados do Nordeste
quando o nosso Pai Celeste
não manda a nuvem chover.
É bem triste a gente ver
findar o mês de janeiro
depois findar fevereiro
e março também passar,
sem o inverno começar
no Nordeste brasileiro.
B — Berra o gado impaciente
reclamando o verde pasto,
desfigurado e arrasto,
com o olhar de penitente;
o fazendeiro, descrente,
um jeito não pode dar,
o sol ardente a queimar
e o vento forte soprando,
a gente fica pensando
que o mundo vai se acabar.
C — Caminhando pelo espaço,
como os trapos de um lençol,
pras bandas do pôr do sol,
as nuvens vão em fracasso:
aqui e ali um pedaço
vagando... sempre vagando,
quem estiver reparando
faz logo a comparação
de umas pastas de algodão
que o vento vai carregando.
(trecho de ABC do Nordeste Flagelado)

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