quarta-feira, 26 de novembro de 2008

O mundo de Desmundo

Ponto marcante de nossa discussão, a língua é o principal meio de dominação de uma nação sobre a outra. Como dominadores e “civilizados”, os portugueses que aqui chegaram, fossem criminosos ou não, não fariam diferente. Além da força, é claro, impuseram a língua aos índios e negros e assim garantiram a conquista da nova terra. O filme retrata essa realidade em um momento em que no Brasil a igreja era a principal responsável por essa tarefa, onde a catequização dos índios na conversão da religião católica trazia consigo a língua imposta pelos portugueses. Com a vinda da família real, o mesmo acontece, trouxeram os primeiros exemplares das escolas e com ela a “verdadeira” língua, ou seja, a gramática. Esta até hoje tida como parâmetro de cultura e polidez.
Em nosso país, ter acesso ao letramento e a formação acadêmica, o que para muitos significa ser de fato culto, não é uma realidade de todos desde a época do Brasil colonial onde os filhos dos ricos iam para capitais européia para se formar e pobres ficavam lançados a própria sorte. Anos se passaram, o Brasil se “libertou” de Portugal e a língua continua presente separando ricos e pobres, os que têm cultura e os “aculturados”.
Esquecemos que em um país tão extenso em tamanho e diversidades culturais, a variedade linguistica é uma realidade imposta, algo impossível de não vermos. Desmundo nos mostra uma gama de verbetes que com o tempo foram transformados, mas que ainda podemos reconhecê-los principalmente no linguajar hoje coloquial, fato esse não poderia ser mesmo diferente, afinal nossos “fidalgos” ali retratados não representava o orgulho de Portugal.
Embora cientes da existência de tantos sotaques e dizeres ao estarmos diante dessa realidade passamos a fazer uma escala de valores muitas vezes de caráter discriminatório. As diferenças então são vistas como erros inaceitáveis, estúpidos ou mesmo engraçados.
Fatalmente quando ouvimos alguém falando “a gente vamos” ou “cuié”, a maioria de nós passa a ver o outro como pobre e sem cultura. Ao corrigir tal “erro” inconscientemente tentamos impor através da língua este diferencial. Esquecemos dos valores e de uma cultura fora do que é gramaticalmente “correto”.

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